Histórias...

1941 era o primeiro ano na Faculdade de Ciências na Rua da Escola Politécnica... Augusta tinha 18 anos e seguia Matemáticas. Era uma das poucas raparigas que por ali andavam e ela gostava disso. Era alta, loira, de olhos azuis e nariz comprido.

Luiz tinha 20 anos. Na altura, ainda não existia o Instituto Superior Técnico e, Luiz frequentava o primeiro ano de Engenharia Civil que teria obrigatóriamente de terminar no Porto.

Cruzavam-se todos os dias na saída do eléctrico... Durante meses Augusta fingiu nem o ver, nem reparar na sua existência.

Um dia , Luiz aproximou-se e falou-lhe dos seus bonitos olhos azuis... Augusta não lhe ligou "isso é o que toda a gente me diz" pensou.

Mas aos poucos e poucos Luiz foi insistindo e Augusta foi-o ouvindo, sem nunca lhe dirigir uma palavra "as meninas não falam com rapazes sem estarem acompanhadas, e eu não tenho aqui a minha irmã"... todos os dias no eléctrico no caminho para a faculdade.

No final do ano lectivo, Luiz, irremediavelmente apaixonado aproximou-se de Augusta e baixinho disse-lhe: "Augusta, o meu amor por si é enorme... basta uma palavra sua e eu desisto do curso de engenharia e não vou amanhã para o Porto!"

" Se é por isso, Luiz, escusa de ir amanhã... por mim, pode ir já hoje!" disse-lhe fria e secamente Augusta e seguiu para as aulas.

Nesse dia quando chegou a casa contou à mãe e à irmã a impertinência do rapaz. Ambas lhe disseram que tinha procedido mal, "pobre do rapaz, então tu não sabes que quando uma pessoa está interessada em nós devemos ser delicadas?!?"

Nunca mais o viu.

Mais tarde, soube por algum conhecido que Luiz tinha-se formado em engenharia civil, era casado e pai de duas meninas.



Ontem, Augusta foi almoçar com a família a um restaurante novo. Mal entrou viu-o, e apesar dos cabelos brancos reconheceu-o imediatamente: "É o Luiz"!

Delicadamente sentou-se à mesa e murmurou à irmã qualquer coisa que esta não conseguiu perceber "ela já sabe que não pode falar baixinho comigo que eu não a ouço!"
Estava a irmã de Augusta nestes pensamentos quando se ouve um "desculpem estar a incomodar mas a senhora por acaso não se chama Augusta".

Augusta nervosa, olha para Luiz e disfarça "Sim, Augusta sou eu. Mas, desculpe, nós conhecemo-nos?"

"Sim... da Faculdade de Ciências, há muito tempo!"
" Luiz?"diz ela...
"Sim! Olá, então como vai? Continua a ir para Góis?"

Mais tarde nesse dia, no regresso a casa, Augusta confessa o seu alívio "Ele não se zangou comigo! É que realmente eu fui muito indelicada! E como ele ainda se lembrava de mim!"

Augusta tem 83 anos... e segundo a minha avó, Augusta, hoje, sentiu-se uma menina!